São Fco.
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Legalidade 50 anos - Legalidade
Enquanto isso, em Santa Catarina, as forças golpistas se posicionaram para conter os gaúchos:
"50 anos da Legalidade em Santa Catarina
De 25 de agosto a 7 de setembro de 1961, o Brasil, particularmente a região Sul, viveu um período ímpar de efervescência política. Da renúncia do presidente Jânio Quadros até a posse com poderes limitados do vice, João Goulart, o Sul esteve preparado para uma guerra que, felizmente, não houve. Esta reportagem especial mostra o desenrolar do episódio conhecido por Campanha da Legalidade em SC.
Lá se vão 50 anos. Na memória de alguns ficaram os 14 dias em que Santa Catarina foi base da resistência militar ao Movimento da Legalidade. O levante liderado pelo governador gaúcho Leonel Brizola, em agosto de 1961, exigia que, diante da renúncia inesperada do presidente Jânio Quadros, fosse empossado o vice João Goulart, o Jango. Florianópolis foi cenário de preparação para uma guerra civil. O objetivo era impedir que o Exército gaúcho avançasse pelo País. Não existem registros oficiais, mas havia rumores de que os militares iriam bombardear a ponte Hercílio Luz. “A elite bélica se colocou estrategicamente em Florianópolis, transformando a região num teatro de operações de guerra. Eu comandei a tropa posicionada no morro dos Cavalos, em Palhoça, para impedir que os rebelados avançassem em direção a Curitiba. A ordem era para explodir a ponte de concreto”, conta o tenente aposentado Idaulo José Cunha.
Na época, explica o militar da reserva, o 14º Batalhão de Caçadores da Capital era comandado pelo coronel Silvio Pinto da Luz. O contingente de cerca de 700 homens posicionou-se contra o movimento e obedecia às ordens do general Odílio Denys, chefe do Estado maior das Forças Armadas. A capital catarinense também sediava o 5º Distrito Naval – comandado pelo contra-almirante Luiz Clóvis de Oliveira –, e era natural que as forças oficiais reforçassem a região. Oliveira era o segundo do Ministério da Marinha.
Tropas militares de Curitiba e do Rio de Janeiro acamparam em Florianópolis. Enquanto aeronaves aterrissavam e decolavam da Base Aérea, o porta-aviões Minas Gerais permanecia atracado na costa Norte da Ilha de Santa Catarina. A Polícia Militar foi orientada a se retirar das ruas. Os PMs foram substituídos por soldados do Exército, Marinha e Aeronáutica.
" Jornal A Notícia/SC
O impasse só foi resolvido com a aceitação de Jango da adoção mambembe do sistema parlamentarista. Mas a crise voltaria e teria seu desfecho fatal em 64.
sábado, 20 de agosto de 2011
Biografia de João Goulart
Acabei de ler, nos intervalos dos meus estudos de doutorado, a biografia do ex-presidente João Goulart.
Trata-se de um livro excelente, que resgata um pouco de nossa história recente, vistos a partir do prisma de um indivíduo que foi protagonista da política brasileira em anos muito quentes.
Está na hora de resgatar a fundo os últimos 50 anos da história brasileira, agora sem amarras e preconceitos. Recomendo a leitura e espero que a Dilma também leia, pois sempre se pode evitar erros.
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Histórias e tradições das Arcadas
Na Folha de São Paulo de hoje.
"Histórias da São Francisco,
Que eu canto com emoção,
Em cada canto do largo,
Eu largo meu coração.
(Trova do poeta Paulo Bomfim).
Neste texto contaremos a surpreendente origem histórica do canto do "pic-pic", famoso nas festas brasileiras de aniversários, e sua vinculação com a vida acadêmica da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (da Universidade de São Paulo) -as Arcadas.
Como se sabe, em muitos lares do país, durante as comemorações familiares de aniversários, cantam-se, em seu ápice, os parabéns com a versão brasileira da famosa melodia do "Happy Birthday".
Terminada a canção, surge de repente um grito de evocação: "E pro Fulano, nada! Tudo! E então como é que é? É". Segue-se o conhecido e enigmático canto do "pic-pic": "É pic, é pic, é pic, é pic, é pic! É hora, é hora, é hora, é hora, é hora! Rá, tim, bum! Fulano, Fulano, Fulano!".
Na verdade, estamos diante de brincadeira e de gritos de guerra surgidos nos corredores e no pátio das Arcadas, entre os estudantes das primeiras décadas do século passado. A princípio, não apresentavam vinculação com festas de aniversários. Eram gritos de pilhéria, regozijo e canções de evocação.
"Pic-pic" era o apelido de um dos líderes das "estudantadas" em sua época, década de 1920, Ubirajara Martins de Souza. Bacharelou-se pela nossa faculdade em 1927.
Era figura conhecida entre os colegas. Portava barba imponente, acompanhada de bigodinhos de pontas aguçadas. Vaidoso, aparava constantemente tais bigodes, servindo-se de uma tesourinha cujo peculiar som de corte sempre ecoava: "pic, pic, pic, pic".
Não tardou para que tal característica lhe rendesse o apelido de "Pic-pic"! Quando aparecia, seus colegas o saudavam entusiasticamente: "É o Pic-pic, é o Pic-pic!".
Já naquela época era costume entre os estudantes dirigir-se ao seu principal bar de encontro: o Ponto Chic, que segue funcionando no largo do Paissandu.
Ali, consumiam rapidamente as cervejas geladas disponíveis. Era preciso aguardar um tempo até que novas garrafas fossem refrigeradas, o que durava em média meia hora.
Os estudantes, acompanhando ansiosamente o avanço do relógio, alvoroçavam-se diante da proximidade do grande momento e punham-se em coro a cantar, clamando de modo desesperado pelas cervejas geladas: "Meia hora, meia hora, é hora, é hora, é hora"!
Por fim, ainda naquele período, recebeu a faculdade uma insólita visita: um rajá indiano, chamado Timbum, proveniente da região de Kapurtala. O acontecimento inusitado, aliado à sonoridade do nome, deu chance aos alunos de incorporar, ao final dos seus cantos, novo grito de guerra: "Ra-já-Tim-bum!".
Geração após geração, foram sendo passados esses cantos e gritos de guerra, sobrepostos uns aos outros, entre os estudantes do largo: "É Pic, é Pic, é Pic, é Pic, é Pic!; meia hora, meia hora, é hora, é hora, é hora!; Rá-já-tim-bum!".
Naquela época, os estudantes do largo eram figuras bastante conhecidas na sociedade paulistana. Por isso, as importantes famílias da cidade, principalmente quando das festas de aniversário de suas filhas casadouras, honravam-se em recebê-los. Aos poucos, o canto do "pic-pic" foi-se difundindo pelas festas de aniversário em São Paulo, mesmo sem os estudantes, e depois estendeu-se para todo o país.
As Arcadas são assim: passado mas também futuro. Olha-se para trás enquanto mira-se o porvir.
EDUARDO CESAR SILVEIRA VITA MARCHI é professor titular de direito romano da Faculdade de Direito da USP, da qual foi diretor (2002-2006)."
"Histórias da São Francisco,
Que eu canto com emoção,
Em cada canto do largo,
Eu largo meu coração.
(Trova do poeta Paulo Bomfim).
Neste texto contaremos a surpreendente origem histórica do canto do "pic-pic", famoso nas festas brasileiras de aniversários, e sua vinculação com a vida acadêmica da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (da Universidade de São Paulo) -as Arcadas.
Como se sabe, em muitos lares do país, durante as comemorações familiares de aniversários, cantam-se, em seu ápice, os parabéns com a versão brasileira da famosa melodia do "Happy Birthday".
Terminada a canção, surge de repente um grito de evocação: "E pro Fulano, nada! Tudo! E então como é que é? É". Segue-se o conhecido e enigmático canto do "pic-pic": "É pic, é pic, é pic, é pic, é pic! É hora, é hora, é hora, é hora, é hora! Rá, tim, bum! Fulano, Fulano, Fulano!".
Na verdade, estamos diante de brincadeira e de gritos de guerra surgidos nos corredores e no pátio das Arcadas, entre os estudantes das primeiras décadas do século passado. A princípio, não apresentavam vinculação com festas de aniversários. Eram gritos de pilhéria, regozijo e canções de evocação.
"Pic-pic" era o apelido de um dos líderes das "estudantadas" em sua época, década de 1920, Ubirajara Martins de Souza. Bacharelou-se pela nossa faculdade em 1927.
Era figura conhecida entre os colegas. Portava barba imponente, acompanhada de bigodinhos de pontas aguçadas. Vaidoso, aparava constantemente tais bigodes, servindo-se de uma tesourinha cujo peculiar som de corte sempre ecoava: "pic, pic, pic, pic".
Não tardou para que tal característica lhe rendesse o apelido de "Pic-pic"! Quando aparecia, seus colegas o saudavam entusiasticamente: "É o Pic-pic, é o Pic-pic!".
Já naquela época era costume entre os estudantes dirigir-se ao seu principal bar de encontro: o Ponto Chic, que segue funcionando no largo do Paissandu.
Ali, consumiam rapidamente as cervejas geladas disponíveis. Era preciso aguardar um tempo até que novas garrafas fossem refrigeradas, o que durava em média meia hora.
Os estudantes, acompanhando ansiosamente o avanço do relógio, alvoroçavam-se diante da proximidade do grande momento e punham-se em coro a cantar, clamando de modo desesperado pelas cervejas geladas: "Meia hora, meia hora, é hora, é hora, é hora"!
Por fim, ainda naquele período, recebeu a faculdade uma insólita visita: um rajá indiano, chamado Timbum, proveniente da região de Kapurtala. O acontecimento inusitado, aliado à sonoridade do nome, deu chance aos alunos de incorporar, ao final dos seus cantos, novo grito de guerra: "Ra-já-Tim-bum!".
Geração após geração, foram sendo passados esses cantos e gritos de guerra, sobrepostos uns aos outros, entre os estudantes do largo: "É Pic, é Pic, é Pic, é Pic, é Pic!; meia hora, meia hora, é hora, é hora, é hora!; Rá-já-tim-bum!".
Naquela época, os estudantes do largo eram figuras bastante conhecidas na sociedade paulistana. Por isso, as importantes famílias da cidade, principalmente quando das festas de aniversário de suas filhas casadouras, honravam-se em recebê-los. Aos poucos, o canto do "pic-pic" foi-se difundindo pelas festas de aniversário em São Paulo, mesmo sem os estudantes, e depois estendeu-se para todo o país.
As Arcadas são assim: passado mas também futuro. Olha-se para trás enquanto mira-se o porvir.
EDUARDO CESAR SILVEIRA VITA MARCHI é professor titular de direito romano da Faculdade de Direito da USP, da qual foi diretor (2002-2006)."
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