São Fco.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Nos tempos da política analógica
Em tempos de eleição nacional, impossível não recordar das eleições passadas. Com o retorno da normalidade democrática, minha primeira eleição, em 1989, já foi direto para presidente da República. Quanta responsabilidade! Era o tempo da votação analógica.
Hoje, todos sabemos, a votação se dá na urna eletrônica, que facilita o processo de votação e apuração. Por outro lado, não ficou ainda absolutamente clara a segurança da urna eletrônica contra eventuais tentativas de fraudes. Aqui lembramos do caso Proconsult, onde a Rede Globo tentou garfar a eleição do Brizola ao governo do RJ e salientamos o fato de que outros países não aderiram à novidade como se esperaria. Alguma coisa aí tem.
A tecnologia sepultou todo um mundo hoje inexistente, como a possibilidade de o eleitor usar a cédula para manifestar sua inconformidade, ofender a tudo e a todos. Isto acontecia porque o eleitor deveria escrever com caneta numa folha de papel (cédula) o nome ou número dos seus candidatos. A tecla “branco” e “nulo” hoje existentes na urna eletrônica são resquícios desta época. Aconteciam coisas muito interessantes.
Numa dessas eleições, acho que a de 94, fui fiscal de apuração de um partido político, na lógica do militante. Lembro-me de um episódio de que participei, muito engraçado. Os integrantes da mesa de apuração abriam as urnas lacradas à vista dos olhos dos fiscais e, em seguida, passavam à leitura dos votos. Como os votos eram escritos, às vezes era necessário interpretá-los.
Numa das cédulas estava escrito, claramente, para deputado federal, “Milton Nascimento”. De pronto, ante à inexistência de um candidato em SC com este nome, um fiscal adversário defendeu a nulidade do voto (era comum o eleitor anular o voto escrevendo “Jesus Cristo”, Deus, algum palavrão ou um nome de artista famoso). Tentei argumentar que se não havia um Milton Nascimento certamente havia um Milton Mendes de Oliveira e que o eleitor se confundira: que valesse a intenção do eleitor e o voto fosse computado! Não adiantou.
Logo depois, na mesma urna, uma letra mais para garrancho indicava algo como, forçando muito, “James Gay”. Desta vez o fiscal adversário correu a usar meu argumento com sinais trocados, lutando para validar o voto para o candidato Jarvis Gaidzinski (já falecido), afirmando ser clara a intenção do eleitor de péssima caligrafia. O eleitor teria se cansado no meio do nome polaco de difícil pronúncia e escrita.
Diante do impasse criado, acabou-se por validar ambos os votos e nosso Milton somou mais um votinho merecido a sua carreira política marcante. Coisas de uma eleição analógica.
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