É incrível a sucessão dos acontecimentos nas ruas das principais cidades do Brasil.
Um movimento importante mas minúsculo, o Movimento Passe Livre (MPL), em sua luta contra o aumento de vinte centavos no transporte coletivo da maior cidade do país, São Paulo, foi o estopim desta imensa e até aqui incontrolada explosão. Registre-se que ela somente ganhou volume depois da violenta repressão da PM paulista, que feriu indiscriminadamente manifestantes (e jornalistas) até então pacíficos, o que atraiu outras pessoas para as seguintes manifestações de rua. Muitas pessoas.
A verdade é que hoje o movimento tomou enormes proporções e o MPL nem conta mais. Diversos grupos de classe média entraram nas manifestações, com demandas as mais diversas e muitas vezes inconpatíveis entre si. É perceptível também as tentativas de manipulação do movimento, quando se busca alguma unificação em bandeiras genéricas como o combate à corrupção (quem é publicamente contra?) e contra a PEC 37, que poucos conhecem (você sabia que a OAB Federal tem posição oficial favorável e que portanto ela não pode ser este absurdo todo?)
Hoje existem duas possibilidades bem nítidas no horizonte do desenrolar destes eventos:
1) a melhor opção é que este movimento consolide-se como movimento social de indignação popular geral contra os limites do sistema político representativo, tensionando fortemente no sentido de maior eficácia constitucional (sim, a nossa CRFB, que completa seus 25 aninhos, é bem democrática, pois instaurou um sistema político não focado somente nos partidos, mas prevendo ampla participação popular em conselhos diversos (federais, estaduais e municipais) e de forma direta, com plebiscitos, referendos e iniciativas populares legislativas). Neste caso, este junho de 2013 será futuramente lembrado como uma importante etapa do aprofundamento da democracia no país, uma luta explícita e vigorosa por mais participação e mais direitos sociais num país que têm tido importantes avanços em todos os níveis. Eu gostaria muito de acreditar nesta opção.
2) a segunda opção é a de que estes movimentos estejam já sendo dirigidos diretamente para abalar o PT no poder federal. As expectativas de médio prazo não indicavam a possibilidade de, nas urnas, setores à direita do PT lograrem derrotá-lo em condições democráticas normais. Todos sabem que, se Dilma não emplacar, ainda tem um Lula no banco de reservas, o que não tranquiliza estes setores. Esta questão objetiva da baixa perspectiva de acesso direto ao poder das lideranças políticas da direita acaba por mobilizar um sentimento disseminado em segmentos importantes da população, o antipetismo. O antipetismo não é apenas um sentimento antigovernista, é muito mais do que isso, sendo marcado por profunda irracionalidade subjetiva. Sua principal característica é dirigir suas energias intensas contra uma imagem de um PT que em sua consistência e unidade de concepções e ações só existe na cabeça desse pessoal. Tem aí um resíduo de anticomunismo, mas também não é só isso.
Esta segunda opção me lembra em tudo os idos de 64. Um partido (PTB à época) que não era esquerda o suficiente mas tinha na pauta avanços sociais relevantes que desagradavam os setores conservadores foi apeado violentamente do poder e, com ele, se foi uma democracia em processo de pleno amadurecimento.
Vou me preparar para a segunda opção. Primeiro porque para a primeira opção não guardo reservas, aplaudirei feliz uma sociedade que rompa com suas amarras na implantação de mais direitos sociais e de formas radicais de democracia popular.
Para a segunda opção é necessário que os setores progressistas do país saiam de sua paralisia e se unam em defesa das instituições, pois as instituições aí vigentes são, não tenhamos vergonha de dizer em alto e bom som, DEMOCRÁTICAS.
E aí, meu caro, hoje, não amanhã, as lideranças precisam se manifestar. Não há motivos para estarem acuadas. Já deu tempo para entender o que ocorre e buscar influenciar racional e legitimamente neste processo, que se for realmente democrático não pode vetar ninguém, nem pessoas, nem instituições.
Professor Carlos Magno. É inegável que no atual cenário, não há bandeira partidária e enquanto ficarmos discutindo se é golpe de direita, só iremos fomentar discussão entre partidos, que eu creio não ser o foco. Ademais, há um bom tempo que o PT se esqueceu das suas raízes de esquerda, e é o que afirma o próprio jurista Hélio Bicudo, ex vice prefeito de São Paulo, que para quem não conhece, foi o fundador do Partido dos Trabalhadores. A propósito, o nome do partido é sugestivo, pois o que se vê com o programa Bolsa Família, que eu repreendo, não estimula nem um pouco ao trabalho. Frisa-se que critico o Bolsa Família, seja quem fora o seu fundador, Tucanos ou Petistas, a forma aplicada ao programa é equivocada. Por isso digo, o povo está cansado do sistema, e o problema para quem apoia ferrenhamente o partido dos operários, é que o BUM se deu no governo do PT. Lembramos que, hoje sequer há direita ou esquerda, há sim, um método de governo que visa a obtenção de votos, seja lá qual for o meio. Se o PT hoje, cancelar o bolsa família e realizar estímulos ao emprego, cursos profissionalizantes, injetar em educação, ganhará meus parabéns. Se algum tucano assumir a presidência e manter o Bolsa Família, receberá minhas vaias. Ressalta-se que estou dando o exemplo do Bolsa Família para delimitar o contexto de desgosto com o governo, mas é evidente que não é apenas este o X da questão. Portanto, seja o PT ou PSDB, ou PMDB ou PRONA, o povo que ver mudança e, o primeiro partido que conseguir implantar um sistema melhor, será aplaudido. Resta saber quem vai se atentar a isso primeiro, pois pela primeira vez na história, o povo vai as ruas por vontade própria, sem qualquer influência de mídia, partido ou sindicato, o que significa que não aguenta mais todos os anos em que foi massacrado pelos seus representantes. Desculpe se falei besteiras, não sou conhecedor da verdade, mas com o pouco que sei, esta é a minha linha de raciocínio. Um abraço do seu ex aluno Henrique Locks.
ResponderExcluirAgradeço o comentário, mas bem imaginas que dele tenho discordâncias. A começar pela falência da dicotomia direita e esquerda, que o livro do Bobbio com este título dá conta de explicar e que os fatos da semana apenas evidenciam.
ResponderExcluirÉ uma pena que pessoas disseminem e acreditem que alguns reais de uma política pública de equalização desestimulam o trabalho, em especial num momento em que todos sabem que se vive uma situação de quase pleno emprego no Brasil. Este é um dos pontos que me situam à esquerda e te situam à direita, ainda que não aceites estes rótulos: defendo ampliação de políticas públicas focadas no ideal da igualdade material. A direita foca na liberdade, é claro.
Bom te "rever" por aqui, sempre lembrando que fomos os únicos da sessão criciumense do "Dogville"!! :)