São Fco.

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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Sarney e o plebiscito do desarmamento


Há alguns dias houve o massacre de adolescentes em Realengo/RJ. Um fato que a todos entristeceu e deixou perplexos. A busca de uma razão para o ocorrido é inerente a nossa condição humana, de seres pensantes, mas inútil. Não há, esta é a verdade, como prevenir que um fato como este se repita.

Estamos acompanhando os desdobramentos do ocorrido. Quero comentar um deles. Por iniciativa do presidente do Senado, senador José Sarney, o Legislativo pretende refazer a consulta sobre o desarmamento feita há alguns anos. Naquela oportunidade a população se manifestou claramente contra a proibição de venda de armas de fogo. (na foto acima, um retrato do artista quando jovem, com seus ídolos de juventude fixados na parede atrás dele).

Sou um defensor da utilização de mecanismos de deliberação direta conjugados à democracia representativa tradicional. Foi, em certa medida, minha pesquisa de mestrado. Mas, democracia direta tem que ser levada à sério. É necessário respeitar a vontade popular.

Não podemos aceitar que se ignorem milhões de votos com apenas um argumento, como o de que o que teria prevalecido na última consulta teria sido o lobby da industria das armas. Não posso ser a favor da democracia apenas quando a vontade do povo coincide com a minha. É errado sair dizendo que o povo não sabe votar quando os resultados não batem com o que penso.

A consulta anterior sobre este tema não tem cinco anos. Não se passou uma geração. Não deve ser refeita. Muito menos se deve fazer uma consulta popular no calor de um acontecimento da magnitude do que ocorreu em Realengo. As pessoas podem ser subjetivamente passionais, as instituições não.

É uma pena que a democracia semidireta não tenha se desenvolvido plenamente em nosso país. Poderíamos ter avançado muito em termos de cidadania política. As razões para isso são óbvias e a maior de todas encontra sua personalização na própria figura de José Sarney: o ranço autoritário (herança do regime militar) ainda presente na cena política brasileira.

Espero não ser submetido a esta palhaçada. Espero, acima de tudo, que a memória das vítimas seja respeitada.

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