Outro dia passei na livraria da Travessa, no centro do Rio, voltando de uma atividade profissional na Faculdade Nacional de Direito. Comprei uns livros, almocei e voltei pra casa, atravessando a bela baía da Guanabara num catamarã rápido que me deixou na estação de Charitas, bairro de Niterói.
Chegando em casa, vi que uma revista de cortesia da livraria acompanhava meus novos livros. Pegando-a para ler, chamou-me a atenção um texto no final, em que um colunista fixo contava sua aventura (desventura é melhor) com um vinho Vega Sicília que ganhara quando de uma viagem ao exterior. A desventura está no fato de ele não ter podido apreciar seu regalo, pois sua mulher, sem que ele soubesse, serviu as duas garrafas preciosas a um grupo de amigos já bêbados que não teriam notado a diferença entre o que bebiam e um outro vinho qualquer.
Esta narrativa me evocou imediatamente minha própria experiência com um Vega Sicília, em uma noite do início de junho de 2006. Estava eu então na companhia de um grande amigo meu, juiz de direito e que fora também meu professor e era então professor de um curso de direito que eu então coordenava, na cidade de Criciúma.
A ocasião para beber o vinho tido como o melhor da Espanha era o jantar de despedida; depois de 17 dias na capital da Cataluña eu iria embarcar para o Brasil às 06:00h da manhã seguinte, e meu amigo me levou a um clube fechado em que há um restaurante e, importantíssimo detalhe, os vinhos são vendidos a preço de loja, não de restaurante.
Abrimos com um pão catalão, que vem a ser um pão delicioso de fatias firmes em que se esfrega alho, tomate e azeite, podendo-se colocar uma fatia de jamón em cima e mandar ver. Meu amigo, olhando a carta de vinhos bateu o martelo: vamos tomar um Vega Sicília! A garrafa escolhida foi uma de 1985.
Foi o vinho mais especial que já tomei. Realmente uma experiência memorável, tomar aquele vinho em Barcelona. Enquanto bebia, pensava no fato de aquele vinho ter sido engarrafado no longínquo ano de 1985: uma verdadeira cápsula do tempo. Em 1985 eu nem sequer pensava em cursar direito, estando eu no primeiro ano do que se chamava á época "segundo grau", me decidindo com 14 anos de idade em cursar desenho e projetos na Escola técnica da SATC. Duas décadas tinham se passado e aquele vinho estava ali, delicioso!
Depois dele veio outra garrafa, cuja marca não me recordo, um outro ótimo vinho de 1996.
Chegando no apartamento do meu amigo, ficamos a conversar até as três horas da madrugada, derrubando meio litro de uma ótima vodka que eu trouxera direto da Letônia, onde em um pulo rápido de 4 dias eu visitara outro grande amigo que reside no Báltico até os dias atuais.
Pensei eu: que boa medida, encher a cara até a hora do voo e dormir durante toda a viagem, acordando refeito apenas no aeroporto de Guarulhos. Que engano!
Passei mais de dez horas de voo numa ressaca danada, pensando o que seria daquele tubo de metal a 7 mil metros de altura se todos os demais passageiros estivessem na mesma condição debilitada que eu!
Passada a viagem interminável, ficou a memória de um vinho incrível saboreado como se deve: entre bons amigos.
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