Acabo de ler o livro "Submissão", do escritor francês Houellebecq. Não havia lido nada dele antes. Como, em resenhas, li que este livro representa bem a sua literatura, não devo ler outro. Não porque tenha odiado; apenas porque não me interessa.
O livro tem o mérito do tema atual (em especial na Europa, mas não apenas) e de usar a literatura para explorar criativamente algo que hoje existe como potencialidade um tanto remota: uma vitória e um governo islâmicos em um país Ocidental, no caso a França de 2022.
Mas para tomar contato com o desenvolvimento da narrativa o leitor precisa se submeter a um ponto de vista radicalmente cínico, apenas engraçado para alguém em uma condição existencial bastante doentia.
Assisti antes de ler o livro, uma entrevista do autor na Globonews. Na verdade uma antientrevista. O autor se esforça todo o tempo para impor uma persona não distante do protagonista do livro, François. Antipático e grosseiro com a jornalista da Globo, representou seu papel de autor desinteressado de ser aceito pelo público. Tudo palco para divulgar na mídia uma falsa condição de desinteresse, pois afinal a entrevista era comercial e seu livro é divulgado com forçadas comparações com livros clássicos de Huxley e Orwell (nada mais distante). E ainda tem a epígrafe na capa: "O livro mais polêmico do ano".
O protagonista do livro é sujeito sem valores, ao ponto de nem lamentar a morte distante da mãe ("aquela vaca"). A misoginia constante no texto e sendo um pano de fundo da narrativa chega a ser, para mim, excessiva. Desconectado de toda valoração, o herói cínico e misógino estetiza passivamente sua existência, aderindo sem convicção ao islamismo, acontecimento apresentado apenas como meio de aumentar sua renda mensal e de adquirir três jovens e submissas mulheres muçulmanas.
Será divertido ganhar a vida se fazendo passar por um sujeito desinteressado e descomprometido com tudo, um sujeito um grau acima destes dramas humanos todos que estão postos na atualidade?
Em síntese, o fato é que o livro não me pareceu boa literatura. E, ao lê-lo, imaginei se o próprio autor não teria consciência disso e tal fato não o divertiria bastante. O que fica é o oportunismo de surfar a onda do momento, o temor mais ou menos generalizado na Europa do crescimento da imigração, em especial da comunidade muçulmana.
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