São Fco.

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quarta-feira, 16 de março de 2011

Uma imagem fala mais que mil palavras...



A foto acima é da convenção do Democratas, realizada ontem em Brasília. Na imagem estão Rodrigo Maia e Agripino Maia, respectivamente o presidente que saiu e o que entrou.

Para os catarinenses a imagem parece não fazer sentido: o DEM acabou de eleger o governo do Estado e no primeiro turno, de lavada. Mas o cenário nacional para o partido que nasceu de um braço de sustentação da última ditadura militar não é dos melhores. Definha em praça pública.

Prova disso foi a ausência de sua liderança de maior posição política atualmente, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que vai sair do partido motivado por ambições pessoais e cálculo político. É público que ele sai do DEM para fundar um PDB que será apenas a ponte para se abrigar no PSB, alinhado com o Governo federal!

O fato é que desde a ditadura militar duas tendências vem se consolidando no país: (1) a diminuição do papel dos militares na (des)estabilização política nacional (vide os livros de história para ver as agitações promovidas por eles no século XX!) e (2) o consistente e paulatino ostracismo político das lideranças ligadas ao último regime ditatorial.

Prova da última afirmação foi a última eleição presidencial em que, seguindo a tendência das anteriores, não se apresentaram como cabeças de chapa políticos que não tenham tido uma trajetória de esquerda nas últimas décadas (Dilma, Serra e Marina).

O problema é do DEM, é claro, mas há aí um problema para a democracia no país. Se, por um lado, é bom observar que políticos não comprometidos com as liberdades e os direitos humanos não se "criam mais", por outro vai ficando evidente que o sistema político brasileiro está se distorcendo em alguns aspectos fundamentais, que estão levando à seguinte situação: as oposições estão desaparecendo, em nível municipal, estadual e federal.

Ontem a Assembléia de São Paulo elegeu por 92 votos (de um total de 94) seu presidente, o tucano Barros Munhoz. O governador do Estado é do mesmo partido. Mesmo o PT votou em bloco a favor. Em nosso estado a escolha do presidente por unanimidade está virando regra há algum tempo. Por que isto ocorre?

Existem dispositivos em nosso sistema político que acabam por promover uma disfunção na atividade parlamentar. Emendas individuais no orçamento são uma delas, pois colocam o deputado/senador de joelhos diante do poder executivo. Outra é o agigantamento da estrutura administrativa dos parlamentos, em nada condizente com sua função constitucional, que permite que todos os deputados se arranjem empregando seus cabos eleitorais, o que fortalece o que vai se tornando o principal objetivo de ser deputado que é viabilizar a sua própria reeleição futura.

A reforma política que agora se alardeia não tocará nestes pontos. Já se percebe que o debate se desvia para coisas mais abstratas como o eterno dilema: voto proporcional ou distrital. A continuar assim, o descrédito da população com a democracia vai sofrendo desgaste, desgaste este que, num momentoi de crise, pode levar a uma não sustentação popular das estruturas da democracia liberal, vistas como mero mecanismo de locupletação pessoal de grupos políticos. Já vimos este filme antes e ele não terminou bem, pois a alternativa foram os regimes fascistas. Urge corrigir estas distorções, mas quem o fará?

2 comentários:

  1. Há um porem, professor. Houve um bom candidato com trajetória esquerdista , a questão é que ao invez de juntar suas forças com os demais candidatos da esquerda, não construiu coligação. Dessa forma, Plínio Sampaio (PSOL), que no meu ponto de vista era um excelente candidato, passou por despercebido aos olhos dos eleitores. Primeiro: a mídia o abafou como pode, por interesses, é claro. Segundo: seu espaço na propaganda eleitoral mal era suficiente para se apresentar. Dessa forma, assistiamos a historinhas mediocres na propaganda dos "mais fortes" e ao mesmo nada de propostas de mudanças. Já quem tinha propostas de impacto não tinha se quer tempo para apresenta-lás. A questão é: a mídia da espaço para a oposição? Como mudar isso?

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  2. Seu comentário é sempre muito bem-vindo.
    De fato Plínio merece, por sua pessoa, todo o nosso respeito. É um intelectual respeitado por todos e tê-lo como candidato a presidente engrandece a disputa.
    Ocorre que vivemos hoje um paradoxo na política das democracias de massa, dominadas pelo marketing político: (1) há uma percepção de que os candidatos cada vez mais se apresentam com discursos semelhantes, indiferenciados, mas, por outro lado (2) os candidatos com discurso ideológico (à esquerda e à direita) recebem votação pífia.
    Não se trata apenas do espaço que a mídia confere ou não, é algo mais profundo.
    Apesar do respeito que nutro pela figura do Plínio, não posso deixar de expressar minha opinião de que ele acabou por desempenhar, na última eleição, apenas o papel de bobo da corte, colaborando na legitimação do processo como um todo. obrigado e forte abraço!

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