São Fco.

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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Em 2015 o povo terá que voltar às ruas: se uma “vaca já tossiu” é bom não deixar a outra ir para o brejo.









A luta pelo aprofundamento da democracia em nosso país vai exigir povo nas ruas novamente, tal como aconteceu nas marchas de junho de 2013. Naquele histórico evento, uma grande massa com múltiplos interesses e motivações foi para a avenida bradar sua insatisfação. Foi a primeira vez, no período pós-ditadura militar, que uma grande massa popular foi às ruas sem que este movimento tivesse passado de alguma forma pelo crivo ou recebesse o apoio do Partido dos Trabalhadores. Daquela amálgama não isenta de contradições e cheia de energia a ser direcionada politicamente, acredito que se possa afirmar representar (1) um grande desejo de uma nova geração em dar a sua contribuição para a dinâmica política da vida nacional (parece haver uma insatisfação com a estrutura polarizada que a política brasileira em nível federal na prática acabou tomando nos últimos 20 anos: PT versus PSDB); (2) uma insatisfação com os intermediários nos processos fundamentais para a expressão da sociedade, seja no que diz respeito aos problemas da chamada representação política, identificada como isolada do conjunto da cidadania e articulada exclusivamente em torno de seus interesses imediatos, seja em relação à mídia tradicional, claramente manifestada nas depredações e pressões das multidões em marcha contra os grandes veículos de comunicação (redes de TV, grandes jornais e revistas), vistos fundamentalmente como manipuladores comprometidos com interesses que não coincidem com aqueles da cidadania emancipada.

Nas eleições de 2014, a candidatura do PT fez dois movimentos claros em sinalização às demandas de 2013: a expedição do decreto da PNPS (Política Nacional de Participação Social) e o compromisso de campanha com a realização de uma reforma política por meio de uma constituinte exclusiva articulada com uma consulta direta à população. Um plebiscito informal foi feito (com adesão de mais de sete milhões de votantes, um número três milhões abaixo do último plebiscito deste tipo feito quando o PT ainda era oposição em nível federal) e a posse de Dilma implicava em uma expectativa de que o governo federal pudesse impulsionar de modo eficiente esta demanda social de alta relevância. Ocorre que neste entretempo a condução política do governo federal tem se caracterizado como desastrosa. A pior das consequências até aqui foi a incrível derrota na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, com a vitória do deputado Eduardo Cunha, que apesar de integrar o PMDB se apresenta com perfil independente em relação ao Palácio do Planalto, sendo político explicitamente hostil a uma série de demandas populares que tinham a expectativa de se verem concretizadas no que se convencionou chamar no ano passado de “reforma política”.

Para deixar muito clara sua posição, Cunha nomeou de plano uma comissão especial da Câmara presidida por ninguém menos que Rodrigo Maia, do Democratas. Sim, o Democratas, um partido que é herdeiro direto de ARENA e PFL, partidos de sustentação da ditadura militar. Um partido que caminha para a total irrelevância, em especial depois de uma enorme debandada ocorrida na oportunista criação do PSD de Gilberto Kassab, criado para ser um PMDB do B. 

Toda e qualquer proposta de aperfeiçoamento das instituições democráticas tem que passar pelo Congresso Nacional. Com a vacilação ou mesmo impotência da Presidência da República e a verdadeira hostilidade da direção da Câmara dos Deputados diante de propostas de reforma política progressistas, só restará ao cidadão indignado voltar às ruas para pressionar novamente as instituições no sentido de impedir que a reforma política, longe de aperfeiçoar a democracia que hoje temos, se converta em espaço de reiteração acentuada do fenômeno intensamente repudiado nas manifestações de junho de 2013, qual seja, o da autonomização dos interesses da classe política em face do restante da população.    
 
P.S.: nem vou comentar as Medidas Provisórias que atingiram direitos sociais. Sobre elas apenas espero que sejam derrotadas no Parlamento (quanto custa politicamente a um partido denominado “dos Trabalhadores” dar a oportunidade para Renan Calheiros afirmar que “não vai deixar que os trabalhadores paguem a conta do ajuste fiscal?”) ou no Judiciário. Seria um bom xarope para curar a inesperada tosse bovina. 

Obs.: a gravura acima é um banner da candidatura vencedora no pleito de 2014.

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