São Fco.

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quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Melancólico fim do ciclo do petismo no poder federal

Lendo os jornais de hoje, a notícia que mais me chama a atenção - por seu teor decisivo - é a rejeição da direção nacional do PT em apoiar a proposta de Dilma Rousseff de realizar um plebiscito caso volte ao governo. Se o próprio partido da presidente afastada age assim, a sinalização mais do que clara é de que Dilma já foi descartada até mesmo por seu próprio partido.

O plebiscito era sim uma boa ideia. O processo de exclusão do PT do governo federal foi um processo complexo, que envolveu uma articulação entre a mídia dominante, o MPF e setores importantes do Poder Judiciário. Este processo por enquanto está a entronizar Michel Temer na presidência da República, mas é evidente que a divisão do butim levará os "unidos contra o PT" à divisão dentro de suas fileiras. Não está assim tão longe do horizonte de possibilidades uma rasteira em Temer para a eleição indireta, ano que vem, de alguém mais consistente na defesa dos interesses deste processo político (cujos interesses de fundo são tão claros).

O plebiscito teria sido uma movimentação no sentido de fortalecer a soberania popular e inseriria um fator inovador no processo que transcorreu tão suavemente para os golpistas. Dilma estar do outro lado do tabuleiro favoreceu muito aos que a queriam fora do Planalto. Ela tem uma visão burocrática do exercício do poder, faltando-lhe o tirocínio para os tempos de tormenta. À Dilma falta a completa noção da importância do tempo na política, noção que não faltou aos seus algozes no Judiciário e no MP (exemplo maior, dentre tantos, foi a suspensão de Eduardo Cunha no tempo "certo").

Mas o plebiscito sugerido agora  já não faz o menor sentido. Neste processo, grande decepção vem também do partido de Dilma, o PT. O PT, a grande construção política do processo de redemocratização, vem demonstrando uma visão política muito aquém dos desafios a que foi submetido. De partido orgânico e complexo que era na fundação, sua experiência no poder só parece ter-lhe feito muito mal. Esta desautorização pública de Dilma evidencia sua (do PT) visão míope de todo o processo, pois está repetindo a posição de muitos que, em 1964, acreditaram que a ruptura institucional somente prejudicaria Jango, aumentando as possibilidades de êxito de cada um para a eleição de 1965.

O PT não parece trabalhar com a hipótese de repetir-se 1965, ou seja, de que as eleições de 2018 possam (1) ser efetivamente suspensas ou, mais provável nos tempos atuais, (2) possam ser realizadas em moldes adulterados sob medida para o não retorno da esquerda ao poder (vejam agora as regras eleitorais que impedem os candidatos de partidos pequenos de participarem de debates. Todos sabem e o STF já sinalizou positivamente: basta aprovar o semipresidencialismo). Descrendo da ferocidade do golpe e supervalorizando (mitificando) sua principal liderança - Lula - o partido caminha com suas próprias pernas para a irrelevância política. Não precisava ser assim.

É tão difícil assim para a liderança do PT compreender que quem promove um processo antidemocrático destas proporções e consequências não o terá feito para logo ali na frente devolver o poder novamente à esquerda?

O que mais me choca é a paralisia que a liderança de esquerda petista produziu no seu campo político em todos estes anos. Um grande contingente da população brasileira poderia ter sido inserido como peça importante neste processo político, mas a liderança do governo, Dilma, mas também Lula e o PT, em suas ações somente produziram inação e perplexidade.

As consequências já se fazem sentir: um imenso retrocesso que atingirá toda a sociedade que começava a dar seus primeiros passos num caminho de inclusão e igualdade social.


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