São Fco.

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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Continuidade do Projeto democrático popular



Feliz.

Feliz com a vitória da Dilma, quarta vitória consecutiva do Partido dos Trabalhadores para a Presidência da República. Vitória maiúscula, com mais de três milhões de votos de diferença e, gostinho especial, ganhando na casa do adversário: Minas Gerais.

Esta eleição foi muito mais qualificada politicamente que a última. Em 2010, no final, o José Serra apelou para a questão do aborto e o debate foi para direções muito secundárias no que diz respeito a uma eleição presidencial. Em 2010 a Dilma era também a candidata do Lula, não tinha um voo próprio.

Nesta eleição o eleitorado se dividiu claramente diante de um quadro nítido de dois projetos diferentes para o país: o do PT, mais à esquerda; e o do PSDB, perceptivelmente mais situado à direita no espectro ideológico. Foi também o processo em que Dilma ganhou vulto próprio, se estabeleceu como liderança nacional. Lula estava ao lado, com forte apoio, mas não era mais "o cara" da eleição.

Esta eleição tem um significado que extrapola a dimensão do país. No jornal "El país", espanhol, nas vésperas do dia da eleição seus colunistas não esconderam o entusiasmo com a perspectiva de derrota do PT e vaticinaram o fim do ciclo de importância das esquerdas na América Latina (sua ex-colônia). Que bom que erraram. Experiências riquíssimas em países como Bolívia, Uruguai, Equador, Chile e Venezuela ganharam um apoio discreto, mas importante. A vitória do PSDB significaria alinhamento automático com os interesses dos EUA, que não vê com bons olhos estes exercícios de autonomia que têm sido implementados naquilo que historicamente consideravam seu quintal.

A notícia ruim é que um sentimento antipetista recrudesceu em uma parcela importante da população. Aécio "entrou nessa", ajudando a fanatizar uma massa reacionária que só faz aumentar um ódio irracional contra o PT. O "dia da libertação" não foi domingo, como ele pregara. Ficou para 2018. Será ele o candidato? A campanha nacionalizou o nome dele, mas também escancarou suas múltiplas fragilidades. Ele é um candidato com muitos flancos a serem explorados no que Perelman chama de "ethos do orador". Eu não me espantaria se em 2018 Alckmin se apresentasse. Ele não tem os problemas de Aécio e, para o país, seria um nome muito mais gabaritado. Isso em caso de derrota do PT, o que não é possível antever.

Triste foi ver Santa Catarina consolidar seu posicionamento conservador. Na minha cidade natal, Criciúma, novamente o PSDB fez mais que dois por um: 75000 a 35000. Fiz um outro post mostrando como minha cidade deixou de votar majoritariamente no PT nos anos 90 e virou completamente a partir da eleição de 2006. 

Criciúma é uma cidade com tradição de lutas populares, lugar de sindicatos combativos, o maior deles o da categoria dos mineiros de carvão. É incrível que tendo eleito um prefeito do PT em 2000, tendo dado vitória a Lula em 1994, 1998 e 2002, e tendo reeleito este prefeito em 2004 (cassado pela justiça eleitoral num episódio cercado de aspectos duvidosos), acabou por se consolidar como lugar predominantemente conservador. Seu último vexame foi em 2012, com a eleição dos 80% de votos anulados, dados a um candidato "ficha-suja" do PSDB (vindo do PFL).

Cito Criciúma porque vendo esta pequena cidade industrial  tento compreender este processo que o André Singer bem registrou em seu livro sobre o lulismo, de migração do eleitorado do PT. É um estudo de caso deste fenômeno, sem dúvida.

O desafio do PT é resgatar este eleitorado perdido em seus 12 anos de governo. Esta deveria ser uma estratégia prioritária.

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