São Fco.

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quinta-feira, 3 de março de 2011

Deixemos o Tiririca em paz



Hoje recebi mais um e-mail cujo tema era a profunda indignação com o deputado Tiririca. Agora que ele compõe a Comissão de Educação e Cultura, o escárnio, na visão do missivista eletrônico, tinha ultrapassado todos os limites.

Penso que a eleição de Tiririca, pela forma como se deu sua candidatura, não é um fato a ser comemorado. Em primeiro lugar pelo fato do seu notório despreparo para a função. Alfabetizado ou não, suas entrevistas demonstram que a atuação parlamentar tem uma complexidade que ele não domina. Mas, pergunto, ele é o único ou mesmo o primeiro nestas condições? Não.

Em segundo lugar deploro também o que sua candidatura significou politicamente: uma estratégia de utilizar as regras do sistema de voto proporcional usando um "puxador de votos" (seja quem for, qualificado ou não) para aumentar a bancada de uma coligação. NO caso do Tiririca foi um tiro certeiro (fez mais de 1,3 milhoes de votos). Mas, pergunto novamente, ele é o único ou mesmo o primeiro nestas condições? Não.

Gostaria de fugir do debate como está colocado e convidar a pensar o problema de um outro viés. Sempre houve políticos folclóricos, despreparados e que, com o passar do tempo, caíram inevitavelmente no esquecimento. Para mim, o problema não está na presença do dep. Tiririca na Comissão de Educação. EStá no foco de toda uma mídia (TV, Jornais, internet etc) que não dedica um segundo sequer para as pautas das comissões parlamentares, mas expõe "ad nauseam" a pobre figura de um de seus integrantes.

Em minha opinião, isto tudo indica duas questões distintas: (1) o velho preconceito contra um sujeito que encarna em si (em todos os aspectos) o estereótipo do brasileiro (o espelho incomoda e muito); (2) Tiririca vem a calhar para reforçar a campanha contínua da mídia brasileira pela desqualificação do EStado, do Poder Legislativo, dos políticos, dos partidos etc. E esta campanha tem objetivos muito claros, numa lógica de constante deslegitimação das instâncias democráticas. Em algum ponto histórico isto faz sentido.

Deixemos o Tiririca em paz. Não caiamos na armadilha de quem quer deslegitimar o processo político democrático. O sistema parlamentar sempre cuidou de colocar deputados com estas características em seus lugares (ou seja, peso zero nas decisões). Que ameaça para a democracia representaram no passado a eleição para a Câmara de Deputados de Ratinho, Clodovil, Bolsonaro, Frank Aguiar? Nenhuma. Na câmara, quem estrutura as coisas são os partidos. Ali eles (os partidos) têm relevância.

Não julguemos um sistema por suas exceções. Ademais, a democracia nunca garantiu que os melhores são sempre os escolhidos. Seu verdadeiro sentido é o de garantir um modo pacífico de retirar os Tiriricas eventualmente instalados em posições importantes. E há muitos outros Tiriricas por aí.

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