São Fco.

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terça-feira, 19 de dezembro de 2017

A uva passa passou de novo

Em julho de 2012, depois de demitir 85 professores (dentre os quais o ex-reitor, o ex-candidato a reitor, uma ex-pro-reitora e o ex-procurador da universidade), o então reitor da UNESC promoveu uma reunião no auditório Ruy Hulse, onde tentou quebrar o gelo da platéia atordoada com o impacto de tantas e inéditas demissões com a infame piadinha-trocadilho da uva passa: "Calma pessoal, tudo passa, até a uva passa". Imagino a cara de quem teve que ouvir isso calado.

Não estou inventando, isso ocorreu realmente.

Na época, a mídia local até teve coragem de estampar na manchete: "demissão em massa na Unesc!". Mas o tom geral era de que as demissões tinham sido necessárias, que a instituição passava por grave crise financeira, que era necessário cortar na carne. Alguns se esmeraram no puxa-saquismo rasteiro, destacando a coragem do gestor e seu sofrimento ao ter que tomar medidas tão duras.

Nenhuma palavra sobre o viés político das demissões. O bom jornalismo ficou muito distante, facilitando a tarefa do então reitor no caminho da adoção da exclusão e perseguição como métodos válidos para tornar mais fácil seu caminho na direção da manutenção e renovação de seu poder pessoal.

Nesta semana vemos que a uva passa passou novamente. Desta vez levou 100 professores! Isso dá 13% do corpo docente total da Unesc, uma demissão maior proporcionalmente que a da Estácio de Sá, que causou revolta em todo o país.

Há apenas seis meses encerrava o mandato do reitor anterior. Todos os colunistas de política da cidade enalteciam o trabalho brilhante por ele realizado, responsável por salvar a instituição do colapso financeiro etc etc etc. Agora, passados apenas seis meses, o jornalismo remunerado esquece oportunisticamente as loas tecidas ao magnífico anterior em prol da blindagem da magnífica de plantão. De novo, o público é convidado a aceitar a tese de que o caos bate à porta da fundação municipal.

Quem não conhece a UNESC a fundo pode pensar que estas demissões - em número impressionante - se inserem no contexto pós-reforma trabalhista, de ajustes das IES privadas para equilibrar seus orçamentos e margens de custos/lucro.

Quem conhece de perto a instituição sabe que o buraco é mais embaixo. Mostrando que aprendeu bem a lição deixada pelo gestor anterior, a atual reitora resolveu praticar o mal todo de uma vez logo no início de seus dois mandatos (algúem tem dúvida? quem ousará ser contra?) e também usou um contexto geral de crise para praticar o ato que funda politicamente sua gestão pelo terror.

Basta ver a nominata dos demitidos para ver que os nomes são escolhidos a dedo. Cito apenas um caso, sem citar o nome para não ser deselegante. Um dos maiores professores da UNESC foi excluído nesta leva. Um professor completo na acepção do termo, bom de sala de aula, bom de pesquisa e extensão. Seu currículo é quilométrico, com diversas publicações internacionais. Um professor senior, que foi pró-reitor na gestão anterior e por isso devia fazer sombra para alguém da gestão atual. Para ter uma ideia da aberração, o sujeito fez doutorado e pós-doutorado com apoio total da UNESC, que agora desperdiça o talento que ajudou a construir. São muitos os casos como este.

Não precisava ser assim. Há uma década tudo era diferente. Respirava-se um clima fantástico na instituição. Edson Rodrigues e Antonio Milioli foram reitores gigantes, de grande caráter democrático, uma visão de mundo invejável. Quem for mais antigo vai lembrar do lema da UNESC na época: "A universidade do abraço!".

Não era um lema vazio, de marketing superficial. Era a expressão de um valor vivido e compartilhado interna e externamente.

Hoje podemos dizer que a universidade do abraço se tornou a universidade do pé-na-bunda.

Escrevo isso aqui porque nenhum "jornal" local vai abordar o tema de modo isento. Isso se dá porque a UNESC é a maior patrocinadora dos meios de comunicação local. Quem paga a banda escolhe a música.

Já que a atual reitora mostrou que vai adotar a cartilha do seu antecessor vou ficar de longe torcendo apenas para que ela siga essa cartilha rigorosamente, fazendo exatamente a mesma coisa: demita o antecessor e bote pra correr o seu vice-reitor atual. Ela já pode contar de antemão com os comentários favoráveis da mídia local, asseverando o "sofrimento" ao tomar a decisão "corajosa".

Lamento muito pelos demitidos e me solidarizo com quem fica. O clima organizacional hoje deve ser simplesmente horrível.

Até 2018!

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