São Fco.

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terça-feira, 22 de novembro de 2011

CQC e a esculhambação da política


Nas noites de segunda-feira, às vezes, eu assisto ao “custe o que custar”, programa da Band que tem boa audiência e repercussão, em especial entre os mais jovens. Apesar de considerar o programa equivocado em muitos pontos, em especial quando aborda temas sérios, acabo vendo diante da falta de opções, mesmo para quem tem TV por assinatura! Eles ganharam um crédito comigo naquela reportagem em que o Danilo Gentili se vestiu de mendigo e perambulou por uma cidade paulista que adotara o “tolerância zero”. O episódio mostrou como a segurança pública funciona com sua eficácia invertida. Mas a maioria das abordagens é equivocada na minha opinião.

De modo geral, não gosto do tom desrespeitoso com que entrevistam as pessoas, um ar de superioridade e deboche que chega a ser agressivo. Mas, considero que eles têm uma contribuição nociva em especial quando abordam a política e os políticos.

Toda semana vai algum CQC para o Congresso Nacional, Câmara de Vereadores ou Assembléia Legislativa. Ali, buscam sempre evidenciar os parlamentares menos preparados, com perguntas que muitas vezes, sob pressão, eles não conseguem responder. Ontem a ONG (séria) “Transparência Brasil” se prestou a legitimar o achincalhe dos políticos. A partir de um levantamento do número de faltas às sessões plenárias, a repórter enfiava o microfone na cara dos políticos mais faltosos, buscando uma resposta absurda ou grosseira, esta a mais valorizada para edição posterior.

Como o brasileiro pouco lê e tem formação cultural em geral deficiente, fico preocupado com os efeitos deste tipo de programa, em especial pelo fato de ter uma linguagem que pode seduzir a juventude. Se é certo que existem parlamentares que envergonham quem os elegeu (MALUF procurado pela Interpol!), é certo que o programa da Bandeirantes mais quer agredir e desqualificar do que informar. Exemplo: a repórter correu atrás de uma vereadora que faltara 31 sessões ao longo destes três anos de mandato. Façamos as contas: são apenas dez sessões por ano. Mais: a informação de que a ausência em plenário pode ser devida à prática da obstrução foi tratada com a chancela do desprezo, como se este procedimento não fosse legítimo na democracia parlamentar.

O condutor do programa, Marcelo Tas, anunciou ontem que o CQC vai acompanhar as eleições municipais do ano que vem. Seria melhor para o país que não acompanhassem. A quem interessa a desqualificação dos políticos e da política democrática? Quando voltarem os homens de óculos escuros não reclamem.

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