São Fco.

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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Sobre o filme "Tropa de Elite II"



Leio hoje que o filme "Tropa de Elite" já foi assistido por mais de 10 milhões de pessoas em todo o Brasil. Não deixa de ser um fato a ser comemorado, uma produção nacional atingir este patamar de audiência. E, tecnicamente, até onde eu posso afirmar alguma coisa neste campo, o filme é bom mesmo. Como diversão, recomendo a todos que assistam.

Quanto à abordagem de um problema social relevante, a violência urbana, temos algo a dizer. O filme evoluiu de maneira importante em relação ao primeiro episódio, onde o maniqueísmo imperava: o mal representado nos bandidos e nos policiais extraBOPE e o bem representado nos integrantes do BOPE, que por seus ideais e um treinamento espartano são os heróis de que nós precisamos, matando e torturando as pessoas certas na medida certa (isto é uma ironia).

No Tropa 2 nosso herói (Nascimento) volta à cena, imbuído dos mesmos ideais. Mas agora a complexidade aumenta. O filme mostra que mesmo os bem-intencionados podem apenas estar a serviço de uma lógica outra, no caso do filme, a corrupção e esquemas eleitorais pesadíssimos que envolvem as milícias, problema grave em especial no RJ. na linguagem do roteiro do filme, o problema não é de índole pessoal, mas do "sistema".

Mas, se por um lado o filme aumenta a complexidade da abordagem e até do seu herói, acaba por cair na vala comum da satanização da política como um todo. Com o sobrevoo final de Brasília, o autor do filme adere a um conspiracionismo que há tempos não se via, pois a mensagem é que tudo vem de lá, do Planalto Central.

Para satanizar a política o autor usa até de um golpe baixo roteirístico, a meu ver, fazendo com que um "intelectualzinho" de esquerda roube a mulher do abnegado herói (que só pensa no bem coletivo e na paz social, nem uma namoradinha?), tirando de sua convivência inclusive o seu único filho homem.

É claro que a abordagem é muito superior aos filmes policiais de Hollywood, por exemplo, pois existe complexidade na construção do roteiro e personagens. Mas ao jogar água num moinho que já rodava bem depois de décadas de manipulação da mídia nativa (o da satanização da política) Padilha apenas contribui para o que mais quer a elite brasileira: que o povo queira se manter longe daquela "podridão".

Seu diretor apenas confirmou que o que está no filme é o que ele próprio pensa, ao declarar seu voto para presidente no programa CQC, semanas atrás: nem Serra, nem Dilma.

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