São Fco.
quinta-feira, 29 de abril de 2010
Dois filmes
Tenho ido menos ao cinema do que gostaria. Doutorado toma um tempo danado da gente! Mas fui assistir aos dois filmes brasileiros desta temporada, que têm em comum o fato de serem filmes com temas biográficos: o do presidente Lula e o do médium Chico Xavier. Do filme de Lula se esperava um mega-sucesso, proporcional ao seu carisma e sua aprovação recorde em todo o país. Como bilheteria, este filme decepcionou. Já o outro filme é um sucesso indiscutível, cinemas lotados como eu nunca mais vira.
Gostei dos dois filmes. O filme de Lula conta a sua história, que é uma história fenomenal gostemos ou não de sua figura política: retirante nordestino pobre que chega à presidência da República (e ainda faz um bom governo) é de tirar o fôlego em qualquer lugar do mundo. E o filme é bem feito, equilibrado, revela detalhes de sua vida a que dificilmente teríamos acesso.
O filme de Xavier também recupera sua bonita trajetória e seu maior mérito é conseguir fazer o relato sem se posicionar sobre ser verdade ou não os fenômenos relacionados com sua figura humana. Crentes no espiritismo e céticos saem do cinema tranqüilos, sem terem sido forçados a crer numa ou noutra versão da história do médium de Uberlândia.
Sobre as causas do sucesso de público de um filme e do fracasso do outro podemos apenas especular. Um fator pode estar relacionado ao fato de a aprovação de Lula estar situada principalmente nas classes mais pobres, sem grana para freqüentar salas de cinema. O fato de ele ainda estar no poder pode ter pesado, além do fato de que boa parte de sua vida não é mistério para os brasileiros, acostumados a vê-lo a cada quatro anos nas eleições desde 1989.
Já a história de Chico Xavier é a história de alguém que já se foi, o sentido de sua existência já encontrou as condições temporais necessárias para sua sedimentação, o que não é o caso de Lula. O brasileiro tem forte tendência ao sincretismo e sua figura simpática ligada à caridade e desapego material facilitam o gostar dele.
Não foi ruim o filme de Lula ter decepcionado. Gosto do político Lula, aprovo seu governo de modo geral, mas não gosto do mito que ele pode se tornar (ou está se tornando), pelo simples fato de que não gosto de mitos.
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