São Fco.

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terça-feira, 13 de abril de 2010

Homossexualidade leva à pedofilia, diz igreja

FSP de 13 de abril de 2010
Número dois do Vaticano afirma que orientação sexual, e não o celibato, é a causa de abusos contra menores cometidos por padres

Afirmações vêm no mesmo dia em que Santa Sé divulga normas que incentivam que bispos denunciem suspeitos de prática à Justiça comum

Ivan Alvarado/Reuters

O secretário-geral do Vaticano,Tarcisio Bertone, durante entrevista em Santiago; para ele, comportamento de padres é escandaloso

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

O Vaticano lançou uma dupla frente de defesa ontem no escândalo das suspeitas de abusos sexuais de menores por padres, com a divulgação de suas diretrizes internas sobre o tema, nas quais recomenda a denúncia à Justiça civil, e com a declaração de seu número dois, no Chile, de que a pedofilia não tem ligação com o celibato e sim com o homossexualismo.
"Muitos psicólogos e psiquiatras demonstraram que não há relação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros demonstraram que há entre homossexualidade e pedofilia", disse o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, em entrevista coletiva em Santiago reproduzida por agências de notícias.
"Essa patologia [pedofilia] aparece em todos os tipos de pessoas e, nos padres, em um grau menor em termos percentuais", disse o religioso italiano. "O comportamento dos padres, nesses casos, é negativo, é grave e é escandaloso."
Teólogos reputados como o suíço Hans Küng têm apontado o celibato como uma das razões para exacerbar o problema da pedofilia na igreja.
Desde que um relatório da Igreja Católica na Irlanda, publicado no ano passado, trouxe à tona que cerca de 15 mil crianças sofreram abusos nas mãos de padres e religiosos entre os anos 30 e 90, denúncias e investigações pipocaram pela Europa e voltaram a surgir nos EUA. Uma linha telefônica para denúncias anônimas por vítimas aberta no fim do mês passado na Alemanha -terra natal do papa- recebeu quase 15 mil ligações em uma semana.
Uma das principais acusações ao Vaticano é a omissão dos bispos e de outros superiores na hierarquia católica. Documentos do Vaticano revelados pela imprensa americana indicam que, quando comandava a Congregação para a Doutrina da Fé, o próprio Bento 16, então cardeal Joseph Ratzinger, atuou para abafar ao menos dois casos.
Bertone disse que a igreja nunca freou investigações e que o papa em breve tomará novas iniciativas "surpreendentes" contra os abusos.
Ontem, o Vaticano publicou em seu site suas diretrizes para lidar com o problema. Nelas, a Santa Sé recomenda explicitamente que casos com suspeitas fundamentadas sejam tratados pela Justiça canônica e levados aos tribunais civis.
"A diocese local investiga todas as alegações de abuso sexual de um menor por um clérigo", afirma o texto. "Se a alegação tem traços de verdade, o caso é levado à Congregação para a Doutrina da Fé (...) A lei civil relativa à comunicação de crimes às devidas autoridades deve sempre ser seguida."
Embora as regras sigam uma bula de abril de 2001, o Motu Proprio Sacramentorum sanctitatis tutela, e o Código Canônico de 1983, elas nunca haviam sido levadas a público.
A divulgação é um esforço do Vaticano para mostrar que tem agido contra o problema. Há três semanas, Bento 16 divulgou uma carta aos fiéis da Irlanda em que exortava os culpados a "responder diante de Deus, assim como diante de tribunais devidamente constituídos".
Outro ponto que fora ressaltado no texto do papa e que as diretrizes explicitam mais é a responsabilidade dos bispos.
Segundo as regras recém-divulgadas, "o bispo local sempre retém o poder para proteger as crianças por meio da restrição das atividades de qualquer padre em sua diocese".
"Isso faz parte de sua autoridade ordinária, que ele é incentivado a exercer na medida necessária para assegurar que as crianças não sejam prejudicadas, poder este que pode ser utilizado antes, durante e depois dos procedimentos canônicos", emenda o texto.
De acordo com as denúncias que têm surgido, porém, nem todos os bispos agiram conforme essa regra.

Meu comentário - A Igreja é a instituição mais antiga do Ocidente e não será esta onda de denúncias de pedofilia que a vai derrubar. Mas a política do Vaticano para lidar com o tema está mostrando claramente que a Igreja tem cada vez mais dificuldades de dialogar com o mundo em sua nova configuração.

Concordo que não pode ser estabelecida uma relação direta entre pedofilia e celibato. Existem pedófilos casados, ativos sexualmente, enfim, de todo gênero. A maioria dos padres católicos também não é praticante de atos de pedofilia, ok. Mas, ligar pedofilia a homossexualidade configura uma generalzação tão absurda quanto a anterior.

O que tem sido cobrado da Igreja não é o fato de existirem práticas de pedofilia entre alguns de seus representantes, mas a (não) resposta da Instituição quando estes casos são detectados.

Existe aqui um problema de avaliar um sistema de valores com base em outro. Na sociedade civil, a concepção generalizada é de que quem pratica um crime deve ser necessariamente punido com os rigores da lei.
Ocorre que, dentro dos valores da Igreja, um indivíduo que comete um pecado pode ser absolvido, desde que se arrependa verdadeiramente diante de Deus. Pra isso serve a confissão, na sistemática católica. No cristianismo, a compaixão com os que cometem erros é parte do núcleo central, expressa na passagem do evangelho onde Cristo afirma que veio para curar os doentes e não os sãos.

Diante deste conflito de valores a sociedade se vê cada vez mais perplexa, mas deve ficar bem claro que não se trata de mera opção da Igreja em esconder seus crimes, mas sim um distanciamento de uma visão de mundo que vem perdendo legitimidade entre seus fiéis.

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