São Fco.
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Onde os gays erram
Ontem foi dia de Parada do Orgulho LGBT em São Paulo. Mais uma vez, milhões de pessoas se reuniram em clima festivo para celebrar a diversidade de manifestações existenciais de sua sexualidade. Penso que este movimento é um movimento vitorioso e positivo para a sociedade.
Mas o evento de ontem e a cobertura positiva da mídia não escondem que em nosso país ainda não há um consenso favorável às bandeiras do movimento. Quando da visita do Presidente do Irã, chamou-me a atenção que Ahmadinejad foi duramente criticado por ser intolerante com os homossexuais, como se esta posição não encontrasse muitos adeptos no Brasil.
Que ninguém se engane: o Direito tem avançado na proteção dos direitos desta minoria no âmbito jurisprudencial. Alterações legislativas parecem distantes. Aqui gostaria de destacar um ponto para o debate.
Nas entrevistas dos representantes do movimento GLBT o que aparece agora com destaque, a indicar ser prioridade, é a aprovação de lei que criminalize a homofobia em suas diversas manifestações. Vozes contrárias se levantam por todos os lados e o debate promete esquentar. Em que pese ser simpático às bandeiras gerais do movimento, discordo dest luta em especial.
Criminalizar não é uma medida adequada para fortalecer a causa homossexual. Existe todo um debate na criminologia crítica sobre a abolição ou minimização do sistema penal, que não deveria ser ignorado pelos ativistas do movimento gay.
O sistema penal não funciona como promete e funciona num sentido perverso: na sociedade fordista, o sistema penal selecionava as pessoas indisciplinadas e prometia reeducá-las para sua reinserção dócil no sistema produtivo. Hoje, numa fase pós-fordista, nem isso existe mais: o sistema não precisa mais de amplos contingentes populacionais, que são jogados nos cárceres mundo afora. Nos EUA, de onde vem a tendência, isto é muito evidente.
Na estratégia de ação do sistema penal é fundamental uma ampla criminalização de um sem-número de delitos. Com a criminalização abrangente, os atores do sistema penal ficam livres para selecionar o seu público preferencial, normalmente localizado entre os excluídos da sociedade. O subproduto disso tudo é uma indústria do controle social, que fatura bilhões em todo o mundo e só faz crescer.
Criar mais um tipo penal fortalece esta lógica. A sociedade precisa abrir os olhos para isso urgentemente e um movimento social de ponta como o GLBT poderia ser um importante aliado, pois seus integrantes formam um segmento da sociedade visado pelo aparato repressivo do Estado.
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