São Fco.

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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Quanto custa?


Artigo do jornalista Nei Manique, no sítio Engeplus

Causou perplexidade nesta quarta-feira a informação do jornalista Gilvan de França no Diário de Criciúma de que não houve qualquer acerto entre a prefeitura e a Construtora Locks acerca do terreno da antiga CBCA. Pior: ao longo do dia, confirmou-se que não existe sequer perspectiva disso ocorrer.

O entendimento entre o prefeito Clésio Salvaro e a direção da empresa foi divulgado ontem pela Decom, a assessoria de comunicação da prefeitura. Ganhou destaque minutos depois na mídia local. Por ser autoridade, a palavra do prefeito sequer for colocada em dúvida. Exceto por Gilvan.

A disparidade entre a versão do prefeito e a posição da empresa abriu um perigoso precedente. Abalou seriamente a credibilidade da assessoria do Paço. Por tabela, deixou os profissionais da imprensa de sobreaviso a futuros blefes de um lado, “barrigas” (inverdades, no jargão jornalístico) de outro.

Não bastasse o confuso enredo no caso do “leilão do terreno da CBCA”, cuja área fica aquém dos 5 mil m2, a liquidez do Paço ampliou o grau de estupefação. De uma hora para outra, Clésio sacou R$ 2,5 milhões para anunciar que o negócio estava sacramentado com a empresa. E mais: que vai investir em obras no local.

Não há nada de estranho no fato de uma prefeitura adquirir um terreno quando o passivo no balanço é coberto por um ativo social. O que confunde a opinião pública é por que comprar um imóvel se a prefeitura já dispõe de outro, localizado a poucos metros da Avenida Centenário no bairro Santa Bárbara e com área bem superior.

Em 2009, quando a inexperiência de um prefeito estreante pôde ser tolerada, Clésio manifestou interesse em vender o Pátio de Máquinas. Trata-se de um imóvel com 15 mil m2, extremado ao sul pela Rua Domênico Sônego, a mesma do Paço, e ao norte pela Artur Pescador, ambas ligadas à Centenário.

O imóvel oferta um problema. Faz extrema também com a canalização do Rio Criciúma. A legislação federal fixa um recuo de 30 metros isento de construções. Teria sido esse o motivo do insucesso do leilão, realizado no ano passado para angariar recursos destinados à renovação da frota da prefeitura.

Mesmo com a faixa de recuo, sobram cerca de 10 mil m2 com gabarito 8. Ou seja, se uma construtora adquirisse o terreno, poderia erguer um edifício de oito pavimentos. Não é difícil imaginar quanto vale o imóvel. Difícil é compreender porque Clésio queria ou quer trocar um bem público desse por maquinário.

Antes de investir R$ 2,5 milhões na aquisição de um terreno e sabe-se lá quanto mais em infraestrutura, Clésio deveria reavaliar seus projetos. Revitalizar uma quadra abandonada e depredada, como o antigo Pátio de Máquinas, e lhe conferir uma utilidade realmente pública seria uma marca de porte em seu governo.

Ao contrário do imóvel da extinta CBCA entre as Ruas Henrique Lage e Araranguá, o terreno na Santa Bárbara possui quatro acessos invejáveis. Para mães que deverão deixar os filhos em uma creche, há até estações do “amarelinho” e semáforo a poucos metros.

Em 2009, Clésio falou mais do que devia e ouviu menos do que precisava. Em 2010, vem escutando gente que sequer estará com ele quando terminar o primeiro mandato. Sua eleição foi fruto da confiança de dezenas de milhares de eleitores. Trinta meses somam um tempo suficiente para não decepcioná-los.

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