São Fco.

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quarta-feira, 19 de maio de 2010

O acordo do Irã

Nestes dias em que o presidente Lula obteve um êxito (veja bem, apenas isso, um êxito) na política internacional um fato se evidenciou as escâncaras: os grandes meios de comunicação brasileiros atuam de forma explicitamente partidarizada e manipulatória, o que leva alguns a afirmarem que há um PIG: partido da imprensa golpista.
Não se trata aqui de defender que a imprensa adote postura apologética de todo governo ou que se comporte como a imprensa dos EUA se comportou nas guerras do Iraque e Afeganistão (de maneira acrítica e atrelada ao governo Bush). Mas, para mim, estes dias mostraram claramente que as coisas não estão correndo bem por aqui. Assistir aos noticiários de outros países pode ajudar a entender do que falo.
Vejo às vezes a TVE, espanhola. Os noticiários carregam na pauta política (o que já difere daqui, onde se dedica mais tempo à contratura na coxa esquerda de algum futebolista que às questões que deveriam mobilizar uma cidadania consciente), mas nem por isso o órgão de imprensa, pela atitude e discurso de seus jornalistas, adota uma posição pró ou contra o governo de Zapatero. O modus operandi é: (1) noticiam o fato, enfatizando qual é a sua problematicidade para, em seguida, (2) abrirem o espaço para alguém em nome do governo – o próprio primeiro ministro ou representante do PSOE – e outra liderança em nome da oposição – normalmente o presidente ou porta-voz do PP – se manifestarem com espaço igual e claramente (a oposição tem um papel fundamental a exercer numa democracia e deve fazê-lo).
O que se vê no Brasil é que os grandes veículos da mídia assumem o discurso de oposição, o que tem se mostrado desastroso para uma adequada formação da opinião pública numa sociedade que se deseja democrática.
Neste caso do Irã (que consiste na pretensão deste país ter seu programa nuclear e na oposição das potências nucleares a esta pretensão) existem ao menos três posições em jogo: (1) os interesses dos EUA, articulados com os de Israel, em resolver esta questão afirmando sua condição de única superpotência (conhecemos processo semelhante recente e desastroso no caso do Iraque e Afeganistão); (2) os interesses dos integrantes permanentes do conselho de segurança da ONU em manter seu "status"; (3) os interesses de países intermediários, dentre os quais estão Índia, Irã, Brasil, Turquia e tantos outros, que vêem na diplomacia, no soft power, o meio mais adequado de encaminhar as questões, em especial porque fortalecem suas posições no jogo político internacional. A primeira posição leva em dois tempos a conflitos bélicos. A terceira posição mira o fortalecimento de processos pacíficos na resolução de conflitos.
Por estas razões, é revoltante ver órgãos da mídia nativa comprometerem suas reputações jornalísticas para defender uma postura que não fortalece o país em que vivemos e que não fortalece a diplomacia e, por conseguinte, a paz. O comprometimento destes grupos com a posição de um dos candidatos nesta eleição deste ano não pode obscurecer certas verdades factuais. Caminhamos para uma enorme desmoralização destes órgãos de comunicação, em especial por existir hoje a internet, que possibilita aos incluídos digitais buscarem as informações sem intermediários, no intervalo de um clic.

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