São Fco.

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segunda-feira, 17 de maio de 2010

O discurso político e a teoria da argumentação



Semana passada estava com meus alunos de Filosofia do Direito analisando a teoria da argumentação de Chaïm Perelman. Trata-se de um importante esforço para superar a tese positivista que lança as disputas valorativas no campo da irracionalidade.
Para Perelman, o auditório é o ponto central de toda a Retórica, referência do que será considerado razoável e norte do discurso a ser enunciado pelo orador. Debatendo com os alunos, percebemos que a teoria da argumentação nos ajuda a entender parte da política atual, em especial o problema tantas vezes denunciado até mesmo pelo homem comum do povo: os políticos parecem todos iguais, não se percebe diferenças em seus discursos.
Ocorre que, nas eleições que se seguiram à ditadura militar, cada vez mais os candidatos têm buscado se assessorar por profissionais de marketing que, conscientemente ou não, têm utilizado maciçamente técnicas que Perelman defenderia. Tornou-se geral o recurso das candidaturas competitivas às pesquisas de opinião, em especial às pesquisas qualitativas, que visam conhecer o que o eleitor pensa a respeito das questões mais importantes a serem debatidas na campanha eleitoral.
A teoria da argumentação enfatiza a este respeito: o orador deve buscar conhecer de antemão as teses a que o auditório já adere, para evitar cometer o que se denomina petição de princípio. Dois exemplos de petições de princípio: (1) no Parlamento de Israel começar um discurso elogiando ou relativizando a figura de Hitler; (2) querer conquistar uma mulher madura iniciando por uma pergunta sobre a sua idade. Com estes exemplos se percebe que dificilmente nosso infeliz orador obteria êxito em persuadir seu auditório iniciando por estes caminhos argumentativos!
Os candidatos são oradores e seu objetivo é convencer a maioria dos eleitores a votarem em si, de modo que vençam as eleições e possam implementar seus projetos políticos para a sociedade. As pesquisas qualitativas que fazem acabam por pautar suas propostas de governo e em decorrência disso, muitos acabam falando a mesma coisa. O exemplo de nossa eleição neste ano é eloqüente: o candidato da oposição, ciente de que o atual presidente tem cerca de 80% de aprovação popular, não apenas evita criticá-lo como não perde a oportunidade de elogiá-lo, pois hoje candidato que critica Lula comete uma petição de princípio eleitoral.
Não adianta lamentar de uma perspectiva moralista, pois sempre se apresentam nas eleições candidatos que não trabalham nesta lógica, trazendo um discurso próprio e de colorido ideológico forte. Estes candidatos são ignorados pelo eleitor, raramente ultrapassando 1% das intenções de voto. Falo de partidos como PCB, PSTU, PSol, dentre outros.
Se por um lado esta realidade decepciona, pois parece favorecer não uma possível sinceridade, mas o “mentir para ganhar”, por outro lado não deixa de configurar uma vitória da democracia, pois é o sentimento médio da população que pauta o debate público e não a cabeça de algum iluminado sectário que pretenda “conscientizar” a massa.

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