FSP de 11-05-2010/ Fernando Barros e Silva
SÃO PAULO - "Eles ficaram batendo nele meia hora e depois o enforcaram na minha frente". "Podiam ter prendido por desacato, mas não precisavam matar. Ele comprou a moto com tanto sacrifício e ia emplacar na terça-feira". "Eu tentava segurar a mão do policial e pedia pelo amor de Deus para que parasse". "Diziam que meu filho era vagabundo, e que eles podiam fazer o que quisessem porque eram policiais".
Ao ver o filho inerte, "eu ainda tinha esperança de que tinham dado alguma injeção, mas depois vi o pescoço mole, a baba escorrendo, a poça de sangue crescendo".
São trechos do relato de Maria Aparecida Menezes. Ela viu o filho Alexandre dos Santos, de 25 anos, ser espancado até a morte por policiais na porta de sua casa, em Cidade Ademar, região pobre no extremo sul paulistano. Hoje, o filho deveria estar emplacando a moto que havia comprado "com tanto sacrifício". Mas ele foi enterrado anteontem, no Dia das Mães.
Alexandre trabalhava como entregador de pizza. Era casado e tinha um filho de 3 anos. A polícia diz que ele trafegava na contramão e não parou ao ser abordado, na madrugada de sábado. Diz também que no hospital foi encontrada uma arma na sua cintura. Soa como uma impostura grosseira para atenuar as circunstâncias boçais do crime.
Há exatamente um mês, PMs assassinaram outro motoboy por espancamento, dentro de uma companhia da corporação. Qualquer um dos dois episódios bastaria para constatar que há algo muito errado na polícia. A estatística reforça essa evidência: no primeiro trimestre deste ano, o número de pessoas mortas em confronto com a PM paulista subiu 40% -146, contra 104 no mesmo período de 2009.
Os tucanos costumam exibir a queda expressiva de homicídios em São Paulo na última década como um troféu da sua política de segurança. Mas matar jovens pobres na porrada não é sinal de eficiência policial. É barbárie. Até quando?
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